Por Guillermo Alvarado
O abismo – já não se trata de mero fosso – entre os mais ricos e os pobres cresce de maneira inusitada num mundo desequilibrado e injusto onde os recursos se concentram cada vez mais nas mãos de num pequeno grupo de privilegiados, entrementes a maioria passa enorme trabalho para sobreviver cada dia e muitos não conseguem.
Recente relatório da organização humanitária britânica OXFAM – elaborado por ocasião da cúpula de Davos, Suíça – assinala que a fortuna dos multimilionários cresceu em 900 bilhões de dólares no ano de 2018, ou seja, 2,5 bilhões cada dia.
Para que se faça uma ideia, o orçamento previsto no Haiti para 2018-2019 monta em pouco mais de 2 bilhões 293 milhões de dólares, quer dizer que os mais ricos do mundo ganham num só dia mais do que o país caribenho tem para gastar durante um ano.
Se somarmos a fortuna dos 26 homens mais ricos do planeta, o montante será superior aos bens que possuem 3,8 bilhões de pessoas que vivem na pobreza e que representam a metade da população mundial.
Os números não são assombrosos, são insultantes e demonstram que estamos vivendo num sistema onde a sede de lucrar e a acumulação de riquezas constituem o valor fundamental, em detrimento da saúde, o bem-estar e a vida mesma dos seres humanos que com sua miséria financiam a opulência dos outros.
Vale recordar que as desigualdades não são casuais, que ser pobre não é uma opção ou uma fatalidade social ou geográfica. As desigualdades são o resultado de um sistema organizado detalhadamente para que as coisas sejam assim.
Na lógica neoliberal, o governo não manda, só administra o que é propriedade de poucos. Isto fica provado com a redução de impostos sobre as grandes fortunas e o aumento dos lucros das multinacionais – direta ou indiretamente -, o que perverte um dos princípios da teoria clássica dos impostos, que é a proporcionalidade. A regra, hoje em dia, é quem mais tem menos paga.
Winnie Byanyima, diretora executiva de Oxfam, denunciou que o abismo cada vez mais fundo entre ricos e pobres obstaculiza a luta contra a pobreza, prejudica a economia e potencia a raiva no mundo.
Dois exemplos em cenários totalmente diferentes: a explosão dos coletes amarelos na França e as caravanas de migrantes centro-americanos. Os dois casos são bem diferentes, porém têm a mesma raiz: a raiva dos que não têm nada.
Outro dado que dá raiva e nojo ao mesmo tempo: o número de multimilionários dobrou desde o começo da crise financeira global de 2008. Enquanto a maioria das pessoas perdeu tudo, um punhado de gente ganhou tudo, o que demonstra que a crise foi um excelente negócio para alguns.