UK
Por Guillermo Alvarado
Em abril passado, quando o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou o projeto de deportar a Ruanda os indocumentados que solicitassem asilo, afirmei que se tratava de um delírio xenófobo, uma obra de mentes perversas que não conhecem limites.
Pois bem, aquilo que parecia um pesadelo se tornou vergonhosa realidade confirmada pelos tribunais britânicos, que rejeitaram as apelações de organizações defensoras dos migrantes, que cruzam aos milhares o Canal da Mancha todos os anos em busca de uma vida melhor.
O governo de Johnson fechou o negócio com as autoridades de Ruanda como se fosse uma compra e venda de carne humana. Após a chegada do primeiro voo ao país africano, previsto para esta quarta-feira, mas cancelado na última hora pela justiça europeia, receberão 120 milhões de libras esterlinas.
O cancelamento do voo não significa, de jeito nenhum, o fim do programa, que conta com a aprovação dos principais órgãos de justiça britânicos e foi assinado por Ruanda, uma nação de duvidosa trajetória em matéria de proteção dos direitos humanos.
A parte mais indecente do caso é que foi a própria ministra britânica do Interior, Pritti Patel, que fechou o pacto, sendo ela filha de dois humildes cidadãos originários de Guyarat, na Índia.
Se os pais de Patel tivessem sido tratados como ela recomenda tratar os demais, teria nascido em Kigali, capital da Ruanda, e não em Londres.
No meu comentário de 16 de abril deste ano, citei declarações de Tim Naor Hilton, diretor-geral de Refugee Action, com relação a essa política. Disse que o plano é um modo covarde, bárbaro e desumano de tratar as pessoas que fogem da guerra e de outros males.
A lastimável ideia de Johnson e de sua ministra do Interior não é outra coisa senão lavar as mãos, com água bastante suja, ao mandar os solicitantes de asilo a sete mil quilômetros de Londres.
Esse mesmo governo, todavia, manifesta disposição de acolher os que fogem da guerra no leste da Europa, os refugiados da Ucrânia, que são louros de olhos azuis.
O chefe do governo britânico não deu a menor importância às palavras de 23 bispos (ocupam o mesmo número de cadeiras na Câmara dos Lordes) que disseram que a deportação de indocumentados a Ruanda envergonhava toda a nação.
De Johnson se pode esperar qualquer coisa, preferencialmente o pior.