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Por Guillermo Alvarado
Hoje em dia, não admira que potências, monarquias, ou governos construam muros para manter afastados migrantes, refugiados ou simplesmente pessoas necessitadas. Nesse sentido, Estados Unidos, Espanha, Marrocos e Israel mostram todos os dias quanto desprezam seus semelhantes.
Porém, que um país pobre, bastante pobre mesmo, faça isso para separar aqueles que têm sido seus vizinhos a vida toda, com quem dividem o território de uma ilha no Caribe, é verdadeiramente espantoso.
Muitos já adivinharam que estou falando na parede indecente que as autoridades de República Dominicana estão construindo na fronteira com o Haiti com o propósito de impedir que os haitianos entrem no país em busca de trabalho ou refúgio.
Para alguns meios de imprensa, como o jornal argentino Página Doce, a obra é o exemplo da política anti-imigrante e discriminatória. Além disso, creio, mostra por que o mundo está como está.
Quando os pobres desprezam e humilham outros pelo mero fato de serem um pouco mais pobres ou sua cor de pele for diferente, que mais podemos dizer?
É verdade que a migração ilegal é um problema, que deve ser controlada, todavia a solução não é bater a porta na cara dos que buscam um pouquinho de solidariedade humana.
É verdade, também, que alguns dos que recorrem a essa via nem sempre vão carregados de boas intenções, porém as autoridades e as leis existem justamente para zelar pela ordem.
A história das relações entre os dois povos está repleta de acontecimentos lastimáveis. Em 1937, o ditador Rafael Leônidas Trujillo mandou matar milhares de haitianos a facadas e pancadas. O episódio é conhecido na história como “o massacre da salsa”.
Em 2013, o Tribunal Constitucional dominicano retirou a cidadania de milhares de pessoas, filhos de haitianos indocumentados que nasceram nesse país. Sem dúvida, uma decisão absurda e xenófoba.
Agora estão erguendo um muro, cujo primeiro desenho, por sinal, foi feito em Israel, um perito nesses temas. A construção foi incumbida a um consórcio chamado COFAH. Ninguém sabe nada de suas origens e seu trabalho é segredo de Estado, assim foi estipulado no contrato.
A jogada pode sair bem cara ao presidente Luis Abinader, porque seu país depende muito da mão-de-obra haitiana em áreas tão sensíveis como a agricultura, a construção e os serviços. Vamos ver o que vai acontecer.