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Por Maria Josefina Arce
Com ao redor de 80% de reprovação e rejeição ao seu governo, a presidente do Peru, Dina Boluarte, fez um controverso balanço dos seis meses de sua gestão; um relatório que nada tem a ver com a realidade da nação andina, mergulhada na instabilidade política e social. Ela simplesmente “esqueceu” de mencionar a violenta repressão exercida contra a população durante seu mandato.
Boluarte, que assume o cargo de presidente após o golpe do Congresso de dezembro passado contra o presidente constitucional Pedro Castillo, tentou pintar a imagem de um Peru onde se conseguiu preservar a ordem democrática e o estado de direito.
Sua presença na semana passada perante a Procuradoria para declarar pelas mortes ocorridas durante os protestos de dezembro passado desmente tal afirmação.
Boluarte é acusada de “genocídio, homicídio qualificado e lesões graves” produzidos pela dura repressão desencadeada contra os manifestantes nas regiões do sul: Puno, Junin e Ayacucho, onde a maioria da população é indígena.
Perto de 70 pessoas foram assassinadas pela polícia e o exército durante os protestos em apoio a Pedro Castillo e em demanda da demissão de Boluarte e a dissolução do Congresso, também questionado pelos peruanos.
Organizações sociais e de direitos humanos denunciaram graves violações das prerrogativas cidadãs e marcante racismo por parte dos corpos de segurança. De acordo com os relatos, indígenas e camponeses tinham sido as principais vítimas do excessivo uso da força contra os protestos.
Naturalmente, a chefe de Estado quis dar a entender que os manifestantes eram meros delinquentes e os protestos tinham sido organizados pela oposição.
Além disso,, Boluarte tentou uma e outra vez minimizar a violência exercida pela polícia e o exército. Chegou ao ponto de dizer que Puno, uma das regiões mais castigadas e com maior número de vítimas, “não é o Peru”.
Todavia, mandou a esse lugar um enorme contingente de veículos e helicópteros militares. Os moradores gravaram em vídeos como os soldados percorriam as ruas.
No seu relatório, Boluarte também elogiou a gestão do governo durante os eventos da natureza que atingiram a nação nos últimos meses, como o furacão Yaku, em março passado. Contudo, as pesquisas dizem o contrario: 82% dos peruanos acham que o executivo não fez o suficiente pelos danificados, nem para evitar os danos.
A presidente fez um balanço de seu governo que não mostra a realidade do país; deixou de lado, por conveniência, aspectos espinhosos da atual situação, e seu isolamento internacional.
Boluarte fez ouvidos moucos à cidadania. E, embora tenha modificado o discurso sobre sua continuidade na presidência, se manteve governando o país contra vento e tempestade, aliada à direita, apesar de que a imensa maioria da população exige que se demita.