Ignorância abjeta

Editado por Irene Fait
2024-03-30 18:59:38

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Marta Rivera de la Cruz

Por Guillermo Alvarado

É difícil imaginar que, a esta altura do século XXI, ainda existam autoridades europeias capazes de justificar ou deturpar os terríveis eventos que ocorreram em nosso continente durante a conquista, o genocídio de seus habitantes e a pilhagem brutal de suas riquezas.

No entanto, estão lá, alguns em posições importantes, e dizem bobagens com tanta facilidade que ficamos imaginando se é ignorância suprema ou racismo, ou, na melhor das hipóteses, como diz o título desta coluna, ignorância abjeta.

É o caso de Marta Rivera de la Cruz, vice-prefeita do Conselho Municipal de Madri, capital do reino espanhol, para ser mais preciso, e delegada de Cultura, Turismo e Esporte dessa cidade. Deve-se acrescentar que ela é membro proeminente do Partido Popular, de direita.

A senhora em questão disse que durante o período colonial, a Espanha não tinha colônias na América, mas sim "vice-reinados", e não satisfeita com isso, garantiu que os súditos da coroa, ou seja, os castelhanos, nunca saquearam nossas terras.

É difícil imaginar onde ela estudou história, ou se alguma vez o fez em sua vida.

Deveria saber, por sua posição, que na noite de 12 de junho de 1562, o frade franciscano Diego de Landa fez uma gigantesca fogueira onde queimou os livros que continham o conhecimento maia, os chamados códices, sobre astronomia, matemática, agronomia e arte.

Esses textos foram escritos quando, na Europa, muitos povos saíam correndo quando um raio caía ou ocorria um eclipse do sol ou da lua, ou mulheres com alto conhecimento, ideias próprias ou simplesmente donas de um gato preto eram consideradas bruxas e assassinadas.

Seria bom perguntar a essa senhora como foi possível que sem espoliação apenas quatro desses códices existam hoje em dia  e três deles estejam na Europa: em Dresden, Paris e Madri; e apenas um, o Grolier, em sua terra natal, o México.

A delegada de Cultura, Turismo e Esporte de Madri apagou de sua memória seletiva os milhares de navios carregados de riquezas que saíram da América para a Europa e financiaram o desenvolvimento desse continente, exceto o que hoje se chama Espanha, que não soube administrar tudo o que foi roubado aqui.

Há também uma coleção de arte americana em Madri: o Tesouro dos Quimbayas, uma cultura colombiana que já desapareceu e que o presidente Gustavo Petro insiste em recuperar para seu povo.  Por sinal, outras 90 peças dessa coleção estão no Museu Field em Chicago, EUA, onde, é claro, ninguém está pensando em devolvê-las.



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