Começa julgamento
Por María Josefina Arce
A Bolívia relembra nestes dias uma tragédia de sua história recente. O massacre de Senkata, ocorrido em novembro de 2019, é uma ferida aberta. A sociedade não esqueceu o assassinato de 10 bolivianos por forças militares e policiais na cidade de El Alto, no departamento de La Paz.
O fato, que deixou mais de trinta feridos, ocorreu em meio a protestos pelo golpe de Estado contra o então presidente Evo Morales, reeleito no mês de outubro daquele ano, e a proclamação ilegítima de Yeanine Áñez como presidenta do país.
O julgamento pelo massacre de Senkata contra Áñez e outras 17 pessoas, incluindo ex-funcionários de seu governo e ex-comandantes militares e policiais começa na quarta-feira em La Paz.
Os relatórios forenses revelaram uma triste realidade: as vítimas morreram devido ao impacto de projéteis de vários calibres, inclusive os usados pelos militares.
O Ministério Público afirma que essas mortes ocorreram em "absoluta violação e desrespeito aos padrões internacionais de direitos humanos".
Um relatório do Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos concluiu que não há provas de que os manifestantes tenham usado armas de fogo uns contra os outros ou contra as forças de segurança.
Da mesma forma, denunciou que nos acontecimentos de 2019 na Bolívia houve execuções sumárias, massacres, racismo e tortura.
Cinco dias antes da violenta repressão contra a manifestação pacífica, Áñez assinou o Decreto Supremo 4078, conhecido como Decreto da Morte, que isentava de responsabilidade criminal os militares envolvidos em operações classificadas como de ordem pública.
A promotoria solicitará uma sentença de 30 anos de prisão para Áñez e os outros réus, sem direito a indulto, pelo crime de genocídio, considerando todas as provas reunidas, como 450 provas documentais, 25 pareceres de especialistas e 11 relatórios técnicos.
Os bolivianos não esquecem os tristes acontecimentos de 2019, especialmente o massacre de Senkata, e esperam que, finalmente, seja feita justiça para as muitas vítimas de graves violações de direitos humanos.