Jesuitas assassinados em Salvador.
María Josefina Arce
Mais de 75.000 pessoas morreram ou desapareceram durante o conflito armado em El Salvador de 1980 a 1992. O exército e os esquadrões da morte, criados para perseguir e exterminar opositores políticos, foram responsáveis por muitos crimes que conturbaram a sociedade salvadorenha.
Em 1989, foram massacrados seis jesuítas, cinco deles espanhóis, e duas mulheres no campus da Universidade Centro-Americana, mas os principais responsáveis não foram levados a julgamento.
Agora, um tribunal de investigação do país centro-americano decidiu julgar 11 pessoas implicadas no assassinato, sem definir data, depois de ter realizado audiência preliminar para determinar se deve prosseguir para esse estágio.
A promotoria havia indicado que tinha provas suficientes para que os réus fossem levados a julgamento pelos crimes de assassinato, atos de terrorismo, conspiração para cometer atos de terrorismo, fraude processual e ocultação.
Um dos principais ausentes do processo é o ex-presidente Alfredo Cristiani, que governou El Salvador de 1989 a 1994 sob o comando da ARENA (Aliança Republicana Nacionalista) de direita, e para quem existe um mandado de prisão desde 2022, quando o caso foi reaberto.
De acordo com o Ministério Público, várias testemunhas colocam Cristiani na reunião em que foi tomada a decisão de matar os jesuítas. Em 1991, um tribunal salvadorenho condenou a 30 anos de cadeia o coronel Guillermo Benavides, considerado o comandante do grupo responsável pelo assassinato dos seis jesuítas e duas funcionárias da Universidade Centro-Americana.
Porém, dois anos depois, ele foi indultado e solto, ao ter sido aprovada, durante o governo de Cristiani, uma Lei de Anistia que impediu, por mais de duas décadas, o julgamento de pessoas envolvidas em crimes de lesa humanidade.
Em 2016, a Suprema Corte de Justiça declarou a polêmica lei inconstitucional. Benavides teve de voltar à prisão e o caso foi reaberto um ano depois, não isento de tropeços durante todo este tempo, sendo encerrado e reaberto em várias ocasiões.
A sociedade salvadorenha aguarda justiça pelas atrocidades cometidas durante o conflito armado pelo exército e pelos esquadrões da morte, apoiados financeiramente pelos EUA e treinados na luta de contrainsurgência.