Após dois meses de governo, o tom prepotente do presidente argentino Maurício Macri, a maré de demissões sem precedentes e as ações de grupos violentos extremistas justificam a inquietação de que a Argentina talvez esteja às portas de um regime repressivo, parecido com as ditaduras militares dos anos 1970 e 1980.
Poucas vezes um governo atacou com tanta ferocidade medidas de benefício popular em vigor como vem fazendo Macri, que chegou ao poder sob o lema “vamos mudar”, se bem que poucos adivinharam a profundidade e o radicalismo desta mudança de volta ao passado.
Até agora, 108 mil postos de trabalho foram eliminados e o presidente se justifica dizendo que a culpa de tudo é do governo anterior, o de Cristina Férnandez, porque deixou um país pobre e com problemas.
Serão pobres e terão problemas estes 108 mil trabalhadores e suas famílias que tinham uma renda garantida e agora estão no olho da rua e devem enfrentar, desempregados, a subida das tarifas elétricas, do gás doméstico e a disparada da inflação.
Dos ricos, tiram os impostos e dos pobres, o trabalho. Esta é a equação dos tempos de mudanças na Argentina e seria bom se os povos de Nossa América compreendessem direito, porque é o âmago da chamada “restauração conservadora” tão badalada pela direita.
Porém, há outros aspectos preocupantes no comportamento das novas autoridades: a perseguição dos dirigentes sociais que são os chamados a encabeçarem os protestos contra as atrocidades deste governo.
Conta entre eles a detenção na província de Jujuy da líder indígena Milagro Sala, que também é deputada ao Parlamento do Mercosul, indiciada por supostos delitos de instigação a cometer atos ilícitos e tumultos.
Nesta detenção foram violadas leis ordinárias argentinas, a Constituição e o Código Processual Penal, e o pior: existe a intenção de generalizar a criminação do protesto social, exatamente como ocorria durante as ditaduras militares, quando ser dirigente sindical, estudantil ou comunitário era mais perigoso que ser ladrão ou assassino.
Recentemente, a casa do Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel em Mar del Plata foi saqueada e destruída por grupos neofascistas que atuam com impunidade total.
O defensor dos direitos humanos denunciou que estas gangues estão reaparecendo com muita força e, em muitos lugares do país, e atuam sem serem incomodados.
Segundo numerosas firmas de consultas, como Poliarca e Haime & Associados, a aprovação do governo de Macri despencou de 12 a 9 pontos desde o mês de dezembro passado, enquanto que a da oposição a seu governo aumentou de 20 a 32 por cento, o que demonstra que a mudança, segundo sua visão particular, não entusiasma os argentinos.