Mais de cem dias se passaram desde as eleições legislativas de 20 de dezembro passado e a Espanha continua na mesma, sem formar novo governo. Se trata da crise política mais prolongada desde o fim da ditadura franquista e o começo da denominada fase democrática nesse país europeu.
Houve várias tentativas, mas todas fracassaram, porque nenhum partido tem a força necessária para impor sua linha. Contudo, a maioria concorda em que Mariano Rajoy, presidente do governo em funções, deve sair.
Nesta semana, o Partido Socialista Operário Espanhol – PSOE – e a organização PODEMOS conseguiram avançar na formação do executivo, mas aí o grupo direitista CIUDADANOS disse que não admitiria esse pacto nem sequer se Pablo Iglesias, líder de PODEMOS, renunciasse a ocupar um cargo na direção do país.
Como se sabe, os pleitos legislativos acabaram com o tradicional bipartidarismo que vinha funcionando há décadas na Espanha, mas deixaram como resultado um Parlamento muito fragmentado, o que obriga a árduas e quase sempre estéreis negociações.
O Partido Popular, de Rajoy, ganhou tecnicamente as eleições com 123 cadeiras, seguido pelo PSOE, que obteve 90, PODEMOS ficou com 69 e CIUDADANOS conquistou 40.
Para formar governo, necessita-se ao menos 176 cadeiras no primeiro turno e uma maioria simples no segundo, mas pela primeira vez na história da Espanha, isto não foi alcançado.
Enquanto isso o tempo vai passando e dentro de um mês, em 2 de maio, vence o prazo concedido pela lei para a formação de governo. Se não acontecer, haverá novas eleições, provavelmente no final do mês de junho, com resultado imprevisível, por tanto, a crise pode se estender de maneira indefinida.
Como se não bastasse, a Espanha descumpriu seus compromissos financeiros com a União Europeia ao sofrer um déficit em suas contas públicas de 5,2 por cento, superior ao pactuado com Bruxelas que exige limite máximo de três pontos, embora em 2015 tivesse dado a Rajoy uma margem de até quatro pontos. Isto complica a situação do direitista Partido Popular se houver, finalmente, novas eleições. A sociedade está descontente com os planos de ajuste que conduziram o país à pobreza e ao desemprego de milhões de pessoas nos últimos dez anos.
Por incrível que pareça, apesar do desastre provocado em seu próprio país, Mariano Rajoy ainda se atreve a dar lições de democracia à Venezuela, como se tudo estivesse de vento em popa na Espanha.
Seria bom se o presidente provisório do governo espanhol aprendesse o ditado popular “em boca fechada não entra mosca”.