Para muitos espanhóis, 2016 foi um ano frustrante. Não frutificou um governo de esquerda e tiveram de se conformar com um segundo mandato do conservador Mariano Rajoy.
Rajoy, líder do direitista Partido Popular, conseguiu renovar seu cargo em 29 de outubro passado. Esse segundo período de Rajoy no poder foi viabilizado pela abstenção de seu rival tradicional: o Partido Socialista Operário Espanhol – PSOE.
Após assumir de novo a direção do governo da Espanha, o líder do Partido Popular confessou que vai procurar uma legislatura estável e duradoura, o que pressupõe grandes tolerâncias em um Parlamento adverso.
Mariano Rajoy governou com maioria absoluta em seu primeiro período e não conseguiu se aliar a outras forças representadas no Congresso dos Deputados, nem mesmo depois das eleições de junho deste ano, que foi uma repetição das realizadas em dezembro de 2015.
Suas 137 cadeiras, num Parlamento de 350, estão longe do apoio necessário para poder defrontar as reformas que ele acha que o país precisa. Também não é suficiente o apoio que lhe poderiam oferecer os 32 deputados do partido de centro-direita Ciudadanos, que votou a favor dele, mas que, ao mesmo tempo, decidiu permanecer fora de um governo do Partido Popular para tentar modificar algumas políticas do mencionado partido. O apoio de Ciudadanos, considerado afim aos conservadores e quarto com maior representação no Parlamento, não foi suficiente para que Rajoy conseguisse uma estabilidade mínima sem fazer acordos precisos com os socialistas, segundos no Congresso com 84 bancadas.
Por sua vez, em conturbado ano governamental o PSOE sofreu crise de identidade e sem liderança depois da forçada demissão de seu secretário geral Pedro Sánchez, que possibilitou ao conservador reprisar seu mandato. O PSOE, ao mesmo tempo, adiantou que buscará acabar com as reformas mais polêmicas aprovadas pelo Partido Popular.
Ao ruir a centenária organização, se apresentou a coalizão UNIDOS PODEMOS com 71 cadeiras no Parlamento, como a verdadeira oposição ao novo executivo, que, pela primeira vez em muito tempo, terá de lidar com uma esquerda consolidada.
Tudo indica que Rajoy aproveitará a fratura e a fraqueza nas fileiras do PSOE para obter alguma adesão às suas medidas impopulares, mesmo que isso não signifique estabilizar a direita na Espanha.
Antes de assumir o cargo, o líder direitista avisou que não deseja derrubar o que já está construído, e sim melhorá-lo. Garantiu, também, estar ciente das dificuldades que implica um governo de minoria e prometeu trabalhar para ganhar adeptos.
Especialistas asseguram que diante de um Parlamento hostil e fragmentado, o chefe de governo espanhol terá de testar sua capacidade de diálogo ou convocar eleições adiantadas quando perceber que sua condição minoritária dificulta sua gestão, se levarmos em conta que em seu governo anterior abusou da hegemonia parlamentar para aprovar suas propostas sem debates e não conseguiu conquistar aliados entre os partidos da oposição.
Entre as prerrogativas de Rajoy está a dissolução das Cortes, isto é, o Parlamento bicameral, a que poderia exercer a partir de maio de 2017. Com isso castigaria, em primeiro lugar, o PSOE, cujas bases vão demorar muito em se restabelecer da aflição que lhes provocou a entrega do poder ao Partido Popular.
Sem dúvida, um dos maiores desafios de Rajoy será o processo unilateral de independência em Catalunha e a intenção dos catalães de realizar um referendo sobre sua autodeterminação em 2017.