América Central manteve ao longo de 2019 um acentuado giro político para a direita – exceto a Nicarágua – e cedeu aos caprichos dos Estados Unidos e sua obsessão contra a Revolução Bolivariana da Venezuela.
Sem dúvida, a mudança mais dramática ocorreu em El Salvador, onde após dois governos consecutivos da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional – FMLN – assumiu o poder um governo de direita presidido pelo empresário Nayib Bukele.
Ele foi membro da Frente e como tal tinha sido eleito prefeito de San Salvador, a capital, mas colidiu com a direção quando quis impor sua candidatura presidencial. Foi expulso com a desculpa de ter infligido maus tratos a uma companheira.
Mal tinha sido eleito, em 03 de fevereiro, Bukele se alinhou imediatamente com as políticas de Donald Trump com relação à região. E, ao ser empossado, a 1º de junho, reconheceu o impostor Juan Guaidó e cortou as relações com o governo legítimo da Venezuela presidido por Nicolas Maduro. Igualmente, aderiu às pressões que se exercem a partir do norte contra a Revolução Sandinista da Nicarágua.
No Panamá, houve eleições presidenciais em 05 de maio, as primeiras realizadas após o escândalo dos famosos Panamá Papers, que desmascarou inúmeros casos de corrupção dentro e fora desse país e potenciou a desconfiança da população com relação aos políticos e funcionários.
Ganhou o rico empresário e pecuarista Laurentino Cortizo, proposto pelo Partido Revolucionário Democrático, que voltou assim ao poder após uma década. Cortizo fez o propósito de mudar a imagem do governo e, nessa direção, foi o primeiro presidente em 30 anos que declarou oficialmente 20 de dezembro Dia de Luto Nacional, em recordação daquele dia em que os EUA invadiram o Panamá, em 1989.
As dúbias eleições realizadas na Guatemala em 2019 deixaram fora do páreo a candidata melhor posicionada: a ex-procuradora Thelma Aldana, que se tornou conhecida por sua luta contra a corrupção e colocou atrás das grade o antigo presidente Otto Pérez Molina e sua vice Roxana Baldetti.
A esquerda – como tinha ocorrido anteriormente – competiu em ordem dispersa, o que deixou fora de qualquer possibilidade sua melhor opção: a líder indígena Thelma Cabrera.
Dois políticos bastante discutíveis disputaram a presidência no segundo turno: Sandra Torres, com inúmeros casos de corrupção, e Alejandro Giamattei, processado por uma chacina ocorrida numa prisão quando era diretor de Presídios.
Com o apoio de uma coalizão de direita, com setores reacionários e antigos militares anticomunistas, Giamattei ganhou, e jurará seu cargo em 14 de janeiro.
A pobreza e a marginalização aumentaram em Honduras em 2019. Houve constantes protestos contra o governo de Juan Orlando Hernández, cujo irmão foi capturado e julgado por tráfico de drogas nos Estados Unidos. O presidente não foi assinalado diretamente, mas muitos garantem que sabia dos negócios do irmão.
Grandes manifestações se sucederam a partir de outubro para exigir a demissão de Hernández, sendo reprimidas com excesso de força pela polícia e o exército.
A violência contra ativistas sociais também foi notícia de destaque. Em total, 29 dirigentes foram assassinados e organizações sociais registraram mais de 1.100 ataques. O outro setor golpeado foi o dos meios de comunicação: sete jornalistas morreram e muitos membros desse grêmio foram agredidos.
Os três países que compõem o Triângulo do Norte da América Central – Guatemala, Honduras e El Salvador – principais emissores de migrantes para os Estados Unidos por sua situação de violência e pobreza extrema, foram forçados por Washington a admitir que sejam chamados “terceiro país seguro”, o que significa que para esse lugar enviará os EUA todos os que não forem admitidos ou tiverem de esperar para ser admitidos em território norte-americano.
A Nicarágua dedicou boa parte de 2019 para restaurar os danos provocados pelo fracassado golpe de Estado de 2018, um movimento sedicioso que debilitou a economia e afetou a segurança do país.
Com o apoio aberto dos EUA, vários grupos trataram de criar instabilidade junto com a direita mais reacionária, os grêmios empresariais e uma boa parte da Igreja Católica que se prestou para estas manobras, alimentadas pela OEA – Organização de Estados Americanos-.
Rodeados de países com governos de direita e hostis, a Frente Sandinistas para a Libertação Nacional fez uma impressionante demonstração de força durante as comemorações pelo 40º aniversário da vitória da Revolução em 19 de julho, quando congregou mais de meio milhão de pessoas na Praça da Fé.
Em 2019, a Costa Rica apagou os últimos vestígios de sua neutralidade praticada ao longo de décadas e que tinha permitido que fosse chamada “A Suíça da América Central” ao alinhar-se com o Grupo de Lima e as agressões contra a Revolução Bolivariana da Venezuela. Seu chanceler, Manuel González, foi nomeado pela OEA como chefe da missão de observadores das eleições de outubro na Bolívia. Lá desempenhou um papel escandaloso ao divulgar um relatório que afirmava a ocorrência de inúmeras e sérias irregularidades nos mencionados pleitos.
Essa irresponsável publicação foi o pretexto do golpe de Estado contra Evo Morales, como ficou provado mais tarde, quando se soube que nunca houve fraude no processo eleitoral e a vitória do Movimento ao Socialismo tinha sido transparente.
O ano foi complicado e com clara inclinação para as posições mais conservadoras da direita, exceto a Nicarágua, que resiste aos embates de seus vizinhos centro-americanos.