Havana, 20 de agosto (RHC).- Sob o título de “Unificação monetária no horizonte de Cuba” o diário “Granma” publica nesta quinta-feira uma matéria com as opiniões de três especialistas do Banco Central que se referem ao imperativo de tomar essa decisão.
Ao abordar o contexto, a diretora de Estudos Econômicos do Banco Central, Mercedes García, lembra o duro golpe que sofreu a economia cubana na década de 1990 com o desaparecimento da então União Soviética e do campo socialista.
Esse fato provocou uma queda de quase 35% do PIB – Produto Interno Bruto desta Ilha e uma elevação drástica do déficit fiscal. Essa situação se somou ao endurecimento do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos EUA, gerando desabastecimento de produtos no mercado varejista e desencadeando fortes desequilíbrios monetários, indicou García.
Isso levou a um processo de inflação reprimida, no qual o dinheiro nas mãos da cidadania ultrapassou a capacidade de oferta de bens e serviços, cujos preços não subiram. O peso cubano perdeu seu poder aquisitivo de maneira acelerada, bem como suas funções como meio de câmbio, reserva de valor e unidade de conta.
O contexto facilitou as condições para uma dolarização de facto, espelhada no mercado informal. Então, essa moeda assumiu as funções de dinheiro do peso, e a taxa de câmbio chegou a alcançar cerca de 150 por cada dólar estadunidense.
Nesse panorama, em 1993 foi concebido um leque de medidas para reaquecer a economia, reinseri-la no mercado internacional e atender os desequilíbrios macroeconômicos que surgiam.
Entre as mais importantes decisões debatidas na Assembleia Nacional e adotadas posteriormente incluiu-se a despenalização da posse e uso do dólar para os cidadãos cubanos e a abertura de lojas para arrecadar divisas.
Em suas declarações ao jornal “Granma”, a alta funcionária do Banco Central sublinhou que a dolarização nunca alcançou toda a economia, porque os salários, seguridade e assistência social, serviços, produtos normados (distribuídos a cada família) e muitas outras atividades continuaram sendo realizadas em pesos.
Para sanear as finanças internas, em 1994 foram eliminadas várias gratuidades e subsídios, e em dezembro desse ano introduziu-se o peso conversível (CUC) nas transações na rede comercial que opera em divisas, paralelamente a estas.
A recuperação econômica permitiu iniciar a retirada de circulação do dólar, primeiro no setor empresarial, onde em 2003 foi eliminado das relações entre as empresas e substituído pelo CUC.
No ano seguinte, o dólar começou a ser retirado como meio de pagamento pela população, e desde então coexistem duas moedas nacionais: o peso cubano (CUP) e o peso conversível (CUC).
Nesse ponto, Ian Pedro Carbonell, especialista da Direção Geral de Políticas Econômicas do Banco Central, explicou que o fenômeno das duas moedas em circulação no país tem problemas subjacentes que é preciso resolver com urgência. Um deles é a própria dualidade monetária, e o outro é a dualidade no câmbio, que estabelece taxas diferentes entre as moedas nacionais, e entre elas e as divisas estrangeiras. Isso gera distorções no setor empresarial e na forma em que a população interatua com ele, apontou Carbonell.
Um dos problemas que requer maior atenção é o tipo de câmbio na esfera empresarial, onde um peso é igual a um CUC, e igual a um dólar estadunidense. É o que os economistas chamam de sobrevalorização, que freia as capacidades produtivas porque desestimula os exportadores e favorece as importações.
Na matéria publicada no jornal “Granma” os especialistas do Banco Central de Cuba abordaram os problemas gerados pela sobrevalorização atual do peso.
Carbonell diz que essa situação tem um efeito notável no funcionamento e no balanço da contabilidade das empresas, e dificulta a medição de fatos econômicos e o impacto que devem ter os incentivos. Quanto à população, as dificuldades estão ligadas à complexidade dos processos gerada pelo uso de duas moedas nacionais, o que vem sendo corregido com a possibilidade de utilizar ambas em muitas instalações.
A dualidade faz que em muitos casos exista uma desconexão interna entre o preço de atacado e no varejo. Para que o peso cumpra suas funções, tem de existir um tipo de câmbio que aproxime a oferta e a demanda de divisas, com regras claras de emissão monetária, e uma disciplina entre ingressos e gastos do governo.
Por sua vez, Karina Cruz, especialista da Direção de Estudos Econômicos do Banco Central, assinalou que é necessária uma coordenação entre os organismos encarregados de conduzir as políticas macroeconômicas, bem como transitar de uma direção administrativa ao uso de instrumentos financeiros.
Também é preciso garantir uma oferta estável e de qualidade de bens e serviços que possam ser adquiridos em pesos, e criar as condições que fomentem a poupança individual e de empresas, além da possibilidade de obter créditos em moeda nacional.
A matéria publicada no diário “Granma” sob o título de “Unificação monetária no horizonte de Cuba” destaca a importância da capacitação de todos os envolvidos na transformação desse entorno ideal em busca do mais real possível para esta nação.