Antigas crônicas, convertidas em lenda, contam que San Cristóbal de La Habana foi fundada em 16 de novembro de 1519 à sombra de uma ceiba (árvore de grande porte típica da América). Ali foram celebradas a primeira missa e o primeiro cabido ou conselho municipal, para deixar estabelecida a nova vila colonial em Cuba. Seu nome provém do santo padroeiro dos marinheiros – San Cristóbal – e do cacique indígena que dominava o lugar antes da chegada dos espanhóis – Habaguanex.
Em 1754, para honrar a tradição da cerimônia de fundação da que foi a sétima vila da época colonial, o então governador da Ilha, Dom Francisco Cajigal de la Vega, mandou erguer uma coluna de três faces, que espelhavam a divisão do país em três regiões, com uma pequena estatueta da Virgem de Pilar no topo. Na base tinha duas inscrições, uma em latim e outra em castelhano, relacionadas com a data histórica.
Por estar perto do mar e devido ao clima úmido, a coluna foi deteriorando-se até que, em 1827, o então Capitão Geral, Dom Francisco Dionísio Vives, mandou restaurá-la e construir um monumento maior para destacar o importante acontecimento. Com grande simbolismo, em 1824 foi inaugurado “El Templete”, que em espanhol é diminutivo de templo. Essa foi a primeira obra de estilo neoclássico em Havana. O projeto foi do arquiteto cubano Antonio María de la Torre.
Ao redor do templo foi colocada uma grade de ferro suportada por colunas coroadas com abacaxis, que segundo os colonizadores era a rainha das frutas cubanas. Dentro desse perímetro ficaram um busto de Cristóvão Colombo, primeiro europeu em chegar ao território das Américas, feito por um artista não identificado, a coluna de três faces e a ceiba.
O interior da edificação foi decorado pelo pintor francês, residente em Havana, Jean Baptiste Vermay, fundador da primeira Academia de Pintura e Desenho de San Alejandro. Ele pintou três quadros representando a primeira missa, o primeiro cabido e a abertura oficial do templo, onde aparecem os rostos das personalidades que assistiram à sua inauguração. Até hoje, existe no interior uma urna branca que guarda os restos mortais do artista e de sua esposa, que morreram durante uma epidemia de cólera em 1833. Ao lado, a estatueta original da Virgem de Pilar. Fora, na parte de cima da coluna, foi colocada uma cópia.
A ceiba é um dos símbolos das religiões cubanas de origem africana. É considerada uma árvore sagrada, e ao redor do tronco os fiéis depositam oferendas aos orixás: frutas, balas, doces, moedas e outras. Ao lado da ceiba, a placa entregue à cidade de Havana pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura em 12 de setembro de 1982, quando seu Centro Histórico foi tombado Patrimônio Cultural da Humanidade. A ceiba atual é a nona plantada no lugar. Normalmente, pode durar até mil anos, porém, a água subterrânea salobre no lugar, bem perto do mar, encurta notavelmente sua vida.
Juntando tradição e lenda, todos os anos, à meia-noite de 15 de novembro, véspera da data de fundação da vila, moradores e visitantes fazem uma longa fila para dar três voltas ao redor da árvore, depositar três moedas e pedir um desejo, que lhe será concedido por San Cristóbal, o santo padroeiro da localidade.
Eusebio Leal, que foi o Historiador de Havana durante décadas até sua morte em 2020, sempre encabeçou a cerimônia, quem sabe se pedindo que sua amada cidade fosse para sempre conservada.