A cidade de Havana, capital de Cuba, é dona do tempo e a memória. Ruidosa, marítima, aberta, mas também sóbria, tímida e chique, é mestiça e aristocrática.
Pelo valor histórico e arquitetônico, a parte mais antiga, conhecida como Havana Velha, foi tombada Patrimônio da Humanidade em 1982 pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
É curiosa a maneira em que dividimos cronologicamente a cidade. A Havana Velha abrange tudo o que foi construído entre os séculos XVI e XIX. Entretanto, a Havana Moderna guarda as edificações do século XX, época em que floresceu o bairro do Vedado, com suas longas avenidas e palacetes onde moravam os mais ricos, longe do barulho da urbanização mais antiga. Ali foram construídos, na década de 1950 e sob a influência norte-americana, os prédios mais altos, que chegaram a atingir os 20 andares.
A partir de 1917, durante a chamada Lei Seca nos EUA, a máfia desse país, fortalecida pelo negócio ilícito do álcool, o jogo e a prostituição, começa a se interessar na capital cubana para estabelecer seus hotéis e cassinos. Ficava muito perto do território estadunidense, e as leis nesta Ilha favoreciam os investimentos nessas operações, sem muitas perguntas nem empecilhos.
Segundo lendas populares e boatos oficiais, em 1928 o mafioso Al Capone, conhecido como “Scar face” ou “Cara cortada”, mandou a Havana seu lugar-tenente Lucky Luciano para negociar a construção de um hotel e cassino. Nesse mesmo ano começaram as obras para erguer o Hotel Nacional de Cuba.
O terreno escolhido foi o morro de Taganana, uma colina alta com vista ao mar, onde tinha sido colocada – durante a dominação colonial espanhola – a famosa bateria de canhões de Santa Clara. O armamento fazia parte do sistema de defesa da cidade ante os frequentes ataques de corsários e piratas, e das frotas das potências inimigas da metrópole. Ainda hoje, o canhão “Ordóñez”, reconhecido pelo seu tamanho, descansa no atual jardim do hotel.
As companhias norte-americanas encarregadas dos planos e da execução das obras foram Mc Kim, Mead& White, e Purdy& Henderson. Em apenas dois anos ficou pronta a majestosa instalação.
O imóvel de oito andares e estilo espanhol chama a atenção por seu ambiente aristocrático e luxuoso. A planta principal é semelhante a três naves paralelas de uma igreja medieval. As vigas decoradas do teto lembram um velho convento catalão com detalhes mouriscos. A combinação eclética de mosaicos sevilhanos e lâmpadas e tetos isabelinos fez com que o renomado escritor cubano Alejo Carpentier o chamasse de “castelo encantado”.
Destaque para o amplo jardim, que por estar ao redor do hotel no alto da colina oferece uma esplêndida vista ao mar, de onde se enxerga a cidade velha e o bairro do Vedado.
Num lado do edifício foi colocado o chamado Apartamento da República, com entrada direta e exclusiva, e privacidade garantida para convidados do governo. A Suíte Presidencial fica no corpo principal.
Inaugurado em 30 de dezembro de 1930, o Hotel Nacional foi sede, em 1946, do encontro dos “capos” ou chefes mafiosos dos EUA com os que tomavam conta de seus negócios em Cuba. Ali se reuniram os representantes das cinco “famílias” de Nova Iorque.
Entre os primeiros visitantes ilustres se destacam personalidades das artes e literatura, como Buster Keaton, Jorge Negrete, Tyrone Power, ErrolFlynn, Rómulo Gallegos e Ernest Hemingway.
Célebres figuras da máfia ítalo-americana também se hospedaram nele: Santo Trafficante, Meyer Lansky, Lucky Luciano e Frank Costello. Enriqueceram sua tradição de anfitrião de luxo personalidades da política e ciência, como Winston Churchill, os duques de Windsor e Alexander Fleming, o descobridor da penicilina.
Em tempos mais recentes, foram hóspedes do Hotel Nacional de Cuba o escritor e Prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, o cineasta Steven Spielberg, o ator Robert Redford, a modelo britânica Naomi Campbell e a atriz brasileira Gloria Pires, entre outros.
Atualmente, é sede do Festival Internacional do Novo Cinema Latino-americano, e serve de palco para apresentações de música tradicional cubana, espetáculos aquáticos em suas piscinas, e ocasionalmente passarelas e desfiles de moda. O outrora cassino é hoje o Cabaré Parisien, onde se pode desfrutar de magníficos shows de música e dança.
Mas, o Hotel Nacional não é apenas um ponto de lazer noturno. Tem centros de negócios, casas de câmbio, nove salões para congressos e coletivas de imprensa com serviço de tradução, e um andar executivo para viajantes de negócios.
A instalação é a mais clássica e emblemática de Havana. Seu luxo, elegância e distinção permanecem intactos após seis décadas, liderando o setor hoteleiro de Cuba. Foi tombado Monumento Nacional, e também faz parte da lista Memória do Mundo concebida pela UNESCO.