Havana, 3 de dezembro (RHC).-Hoje às 7 horas da noite a Praça “Antonio Maceo” de Santiago foi cenário do ato público de homenagem a Fidel. Centenas de milhares de pessoas se concentraram lá para escutar os discursos do presidente Raúl Castro e dos representantes das organizações políticas, sindicais e sociais.
Estavam presentes chefes de Estado e de governo e personalidades de vários países, entre eles os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, da Bolívia, Evo Morales, e da Nicarágua, Daniel Ortega, e os ex-mandatários do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
No ato, Raúl referiu-se ao sentimento de amor com que os cubanos esperaram passar o cortejo fúnebre desde que partiu da capital, e destacou que as cinzas de Fidel repousarão muito perto do mausoléu de José Martí, o Herói Nacional, e dos restos mortais de seus companheiros de luta no Moncada, no Granma e no Exército Rebelde, e de combatentes da luta clandestina e de missões internacionalistas.
Também, a poucos passos dos túmulos de Carlos Manuel de Céspedes, o Pai da Pátria, e da lendária Mariana Grajales, mãe dos irmãos Maceo, proeminentes figuras da guerra pela independência. E de Frank País, jovem de Santiago de Cuba que organizou o levante na cidade em apoio ao desembarque dos expedicionários do iate Granma em 1956, assassinado pelos agentes da ditadura um mês depois dessa ação revolucionária.
“Desde que se conheceu, já tarde à noite de 25 de novembro, a notícia do falecimento do líder histórico da Revolução cubana, a dor e a tristeza se apropriaram do povo que, profundamente comovido por sua irreparável perda física, demonstrou firmeza, convicção patriótica, disciplina e maturidade ao acudir de forma massiva às atividades de homenagem organizadas, e aderiu ao juramento de fidelidade ao conceito de Revolução exposto por Fidel em primeiro de maio do ano 2000”, apontou o presidente cubano no ato de ontem à noite em Santiago de Cuba.
Raúl ressaltou a reação das crianças e jovens que ratificaram sua disposição de serem fiéis continuadores dos ideais do líder da Revolução e agradeceu, em nome do povo, do Partido, do Estado, do governo e dos familiares as inúmeras expressões de respeito e afeto a Fidel, suas ideias e sua obra, que continuam chegando de todos os cantos do planeta.
“Fiel à ética Martiana de que 'toda a glória cabe num grão de milho', o líder da Revolução rejeitava toda manifestação de culto à personalidade, e foi consequente com essa atitude até as últimas horas de sua vida, insistindo em que, após falecer, seu nome e sua figura nunca fossem utilizados para denominar instituições, praças, parques, avenidas, ruas ou outros lugares públicos, nem erguidos em sua memória monumentos, bustos, estátuas e outras formas semelhantes de tributo”, assinalou o presidente cubano.
Raúl anunciou que, levando em conta esse desejo, seriam encaminhadas à Assembleia Nacional do Poder Popular as propostas legislativas requeridas para que prevaleça sua vontade.
Mais adiante, referiu-se à capacidade de Fidel de previsão de acontecimentos históricos, e lembrou que ele falou da possibilidade de desaparecer a União Soviética e o campo socialista dois anos e meio antes de que isso ocorresse, e na época garantiu que Cuba continuaria defendendo as bandeiras do socialismo.
“A autoridade de Fidel e sua relação entranhável com o povo foram determinantes para a heroica resistência do país nos anos dramáticos do período especial, quando o Produto Interno Bruto caiu 34,8% e se deteriorou sensivelmente a alimentação dos cubanos, sofremos blecautes de 16 e até 20 horas diárias, e paralisou-se boa parte da indústria e do transporte público”, lembrou Raúl Castro, e frisou que apesar disso conseguiu-se preservar no país a saúde pública e a educação para toda a população, em meio ao endurecimento do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos EUA.
Disse que naqueles tempos poucos no mundo apostavam na capacidade de Cuba para resistir e vencer as dificuldades e o intensificado cerco inimigo. “Porém, nosso povo, sob a condução de Fidel, deu uma inesquecível lição de firmeza e lealdade aos princípios da Revolução”, assinalou.
O chefe de Estado cubano citou trechos de um discurso que proferiu em 1994, um dos anos mais difíceis do chamado Período Especial no país, no qual ressaltava a convicção de Fidel de que era possível ultrapassar essa situação e sua fé na vitória desde que estava preparando o ataque ao quartel Moncada em 1953.
Mencionou várias ocasiões em que Fidel demonstrou seu otimismo e certeza na capacidade do povo em suas lutas pela liberdade, independência e soberania, como o desembarque dos expedicionários do iate Granma, a luta guerrilheira nas montanhas da Serra Maestra, a invasão de leste a oeste do país pelas colunas guerrilheiras comandadas pelo Che Guevara e Camilo Cienfuegos, a vitória sobre a invasão mercenária de Playa Girón, a campanha nacional de alfabetização e a proclamação do caráter socialista da Revolução cubana.
Também, a Crise dos Mísseis em outubro de 1962, quando o mundo esteve à beira de um holocausto nuclear e a ajuda solidária a outros povos na luta contra a opressão colonial, a agressão externa e o racismo, como aconteceu em Angola.
“Que Cuba sim podia se tornar uma potência médica, reduzir a mortalidade infantil ao índice mais baixo do Terceiro Mundo, primeiro, e do mundo rico depois, porque pelo menos neste continente temos a mais baixa mortalidade de menores de um ano de idade, menos que o Canadá e os próprios EUA, e ao mesmo tempo, elevar notavelmente a esperança de vida da população”, afirmou Raúl Castro.
“Que Cuba sim podia se transformar num grande polo científico, avançar nas modernas e decisivas áreas da engenharia genética e biotecnologia, inserir-nos no coto fechado do comércio internacional de fármacos, desenvolver o turismo apesar do bloqueio norte-americano”, sublinhou o presidente cubano.
Apontou que Fidel demonstrou que para Cuba era possível resistir, sobreviver e se desenvolver sem abrir mão dos princípios nem das conquistas do socialismo no mundo unipolar e de onipotência das transnacionais surgido após o desabamento do campo socialista na Europa e da desintegração da União Soviética.
“O ensinamento permanente de Fidel é que sim é possível, que o homem é capaz de se sobrepor às mais duras condições se não esmorecer sua vontade de vencer, fizer uma avaliação correta de cada situação e não renunciar a seus justos e nobres princípios”, indicou Raúl ao citar o discurso que proferiu em 1994 em meio às enormes dificuldades econômicas que enfrentava o país.
Afirmou que Fidel nunca perdeu a fé na vitória, e lembrou que 13 dias depois do desastre do primeiro combate em Alegria de Pío, quando foi dizimada a expedição do iate Granma, o líder cubano se reencontrou com um grupo pequeno de combatentes e expressou: “Agora sim ganhamos a guerra!”.
“Esse é o Fidel invicto que nos convoca com seu exemplo e com a demonstração de que Sim foi possível, Sim é possível e Sim será possível!”, reiterou o presidente cubano no ato de ontem à noite em Santiago. Frisou que o líder histórico demonstrou a possibilidade de vencer todo obstáculo, ameaça ou turbulência no firme empenho de construir o socialismo em Cuba, que significa garantir a independência e soberania da Pátria.
“Perante os restos de Fidel na Praça da Revolução Major General Antonio Maceo Grajales, na heroica Santiago de Cuba, juremos defender a pátria e o socialismo! E juntos reafirmemos todos a frase do Titã de Bronze: 'Quem tentar se apropriar de Cuba, colherá o pó do seu solo anegado em sangue se não perecer na luta!'”, apontou Raúl Castro, e concluiu: “Fidel, Fidel, Até a Vitória!”.